O LIXO DA CIDADE

Dez anos de Assemblage de Rafael Codognoto

Por Celaine Refosco / Outono de 2022

No Curso de Pintura da EMBAP, Rafael Codognoto aprimorou o entendimento e amplificou a expressão e capacidade criativa, trazidas da infância. Nasceu em Carlópolis, no interior do Paraná e a partir dos 4 anos de idade passou a residir em Curitiba, onde vive e trabalha. 

A mudança para a cidade é marcada na sua memória pelas caixas que passa a receber de seu pai, profissional da coleta de lixo da cidade, como presentes. Caixas de possiblidades. 

Reconhecia nas caixas de pedaços de brinquedos, materiais inteiros. Como se fossem peças de um jogo a partir dos quais construía seus próprios mundos. Ainda hoje não acredita em lixo, vê nele, matérias. As caixas de pedaços nunca foram associadas à falta, pobreza ou tristeza. Antes, representaram expressão de abundância e de caminhos abertos para a liberdade e a riqueza de sua autonomia e condição criativa.

Desde então praticou a sistematização que estrutura sua pratica artística. O estado de atenção constante enquanto perfaz seus caminhos é a premissa fundamental para o seu processo artístico. Rafael perfaz seus caminhos diários com o comportamento de um pintor numa loja de tintas. Sempre disposto a vasculhar, separar, carregar, convencer quem está junto a carregar com ele.

Importante aqui fazer uma nota sobre as diferenças entre procurar e encontrar. Quem procura leva em mente o objetivo do que busca. Quem encontra, recebe de espirito desimpedido, o desconhecido. 

A disposição por usar os materiais encontrados, não passa pelo ato de reciclar por si próprio, nem por obter materiais a baixo custo, mas antes por satisfazer uma curiosidade que só o ato de encontrar proporciona, quase como um desejo de receber a surpresa, talvez ainda as caixas que o pai lhe trazia. 

Se a gênese do trabalho de Rafael está no material encontrado, seu processo de sistematização segue passos definidos e também integram o seu fazer artístico. Limpeza, classificação e organização do coletado vêm a seguir e são cumpridas com rigor.

Durante as etapas iniciais do processo, o próprio material, num diálogo existencial com o artista, vai contando o que quer ser, trazendo notícias do mundo, reflexões sobre a vida, assentando entendimentos. Por vezes, basta editá-los e zás, já são arte. Por vezes o trabalho é mais longo, complexo e transformador.  

A surpresa com o que encontra pelas lixeiras e caçambas da cidade nunca acaba, revela como vivem as gentes, o que prezam e como se desapegam, como consomem e a quem consomem, permitindo que Rafael construa sua poética, que é também um lugar de entendimento social. 

Seu fazer artístico inclui em si uma investigação antropológica. O tempo que dedica a intervir sobre as matérias, através de pintura, costura, bordado, marcenaria e outras técnicas, permite que chegue a expressões muito diferenciadas, mas também a entendimentos mais profundos sobre a alma humana. A restituição da dignidade e a denúncia da dor são elementos que atravessam todo o trabalho de Rafael. 

Esta exposição apresenta trabalhos dos últimos dez anos de Rafael Codognoto dividido em 8 grupos. Cada grupo trata de um tema ou um material específico, e também apresenta uma forma particular de assemblage, diferentes maneiras de tratar o encontrado, diferentes níveis de ação do artista sobre a matéria.

Grupo 1 - Gabinete de Curiosidades

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 2 - Compilações Tipográficas

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 3 - A Fala dos Materiais

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 4 - Vermelhos

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 5 - Vitrais

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 6 - Esculturas Moles

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 7 -Tapumes

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade

Grupo 8 - Flora Schachter - A Alma humana mora, também nas coisas

por Rafael Codognoto | O Lixo da Cidade